sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O casamento


Lixo que era lá estava, nitidamente cansada já não tinha ânimo pra comer, sorrir e até mesmo para falar, ficava muda e no máximo chorava sem derramar lágrimas, para não demonstrar qualquer sinal de fraqueza.

A cada tapa era uma nova marca, e marcas ela tinha muitas pelo corpo todo, pareciam um diário de dor, pois afinal, cada marca que estranhamente ficava gravada no seu corpo era uma marca de dor e sofrimento

Certa noite lá estava ela deitada, inerte e desfalecida no sofá, vendo qualquer coisa sem importância na TV, até que surge pela porta da sala um homem cambiando pelo caminho, derrubando os poucos enfeites, o pouco de delicadeza que havia na casa, um ser assim só poderia ser o marido, o marido de Ana Rosa.

E sem motivo ele estava visivelmente nervoso e bêbado, Ana Rosa sabia que essa noite iria sentir dor, chorar e mostrar fraqueza, e por um segundo, um único segundo Rosa sorriu, já era nítido que não se importava mais, e antes de fechar o sorriso levou a primeira bofetada que foi seguida de outra mais forte e um chute, foram repetidas várias vezes essa seqüência de socos e chutes, até que Ana não sentisse mais nada, não visse mais nada, nessas horas Rosa só sabia apanhar.

Ele não parou de bater por um minuto em 30 deles, e trinta míseros minutos ali significavam tempo demais, Ana deu seu ultimo suspiro seguido de um grito de liberdade passados 20 minutos de espancamento.


PS:E mais uma vez não derramou uma lágrima!

domingo, 7 de setembro de 2008

-Manda "busca"!


Era uma terra viva, não necessariamente fértil, era viva na cor, dona de um vermelho que se fundia em tudo, nas folhas das árvores, nos pés de quem fiar-se a deixá-los nus. E não eram poucas as folhas e os pés pelados, era uma cidade verde e as crianças estavam quase que o dia todo descalças brincando pelos campos vermelhos.

No alto as pipas estavam sempre a tremular e as batalhas aéreas não cessavam perto de Deus, os campos de bolinhas e pião estavam sempre cheios de crianças pobres e inocentes que não se preocupavam em sujar suas roupas, pois as únicas que tinham já estavam sujas e velhas. As bolinhas de gude ali valiam muito assim como as pipas e piões e eram tratados com devido valor por isso as brigas nos campos eram constantes.

A pesar de pobres todos ali me pareciam felizes e generosos, viviam com pouco, no entanto viviam bem, muito bem. Aquela pequena cidade tornava todos que ali viviam pessoas melhores sem elas nem mesmo perceberem.

É um bom lugar.



PS: Meus pés ainda estão vermelhos